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COLUNA DA ELÔ LEBOURG: Sobre estudantes que têm filhos

Texto 80

Como professora, cuido de não perder de vista o fato de que meus alunos são pessoas com corpos, histórias, relações, medos, ansiedades, alegrias e sonhos. Mesmo lecionando para mais de 150 alunos atualmente, tento perceber cada um individualmente, dentro do que cabe na especificidade de nossa relação – docente e discente.

Nos meus acordos de relacionamento com as turmas, construídos a cada início de semestre e frequentemente atualizados por mim e pelos próprios estudantes sempre que necessário, tento mostrar que toda dimensão humana será considerada em nossas disciplinas. Estamos, neste momento de nossas vidas, aprendendo uns com os outros e creio que todos possamos fazer um esforço (será mesmo um esforço?!) para nos percebermos enquanto pessoas que somos.

Nesses combinados iniciais, considero que leciono para estudantes de licenciaturas e da graduação em Pedagogia e que esses alunos são jovens ou adultos. É natural que parte deles tenha filhos. Da mesma forma, reconheço que, ao longo de todo um semestre de aulas, é possível que, em certas situações, meus alunos e minhas alunas não tenham com quem deixar seus filhos. E, assim, assumo que todos eles são bem-vindos em nossas aulas.

As minhas alunas e os meus alunos que têm filhos não precisam deixar de assistir às nossas aulas quando não tiverem quem cuide de suas crianças. Podem trazê-los sempre que quiserem ou necessitarem, independentemente de suas idades, se bebês de colo ou crianças maiores.

O risco de um choro ou de uma baguncinha pontual tirar a atenção da turma também não me assusta: certamente, em uma aula, outros fatores distrairão meus alunos e até mesmo a mim. Se um bebê chora durante a aula, aguardamos que ele se acalme. Se uma criança conversa mais alto ou se levanta e corre, isso não nos incomoda. Se nossa discussão pode conter termos ou assuntos inapropriados para serem ouvidos por uma criança – o que é pouco provável –, amenizamos nosso diálogo, tomamos cuidado.

Tenho tentado construir essa consciência entre os meus alunos, a de que cada componente da vida dos outros importa e interessa. Se um professor, sobretudo na área da Educação, proíbe um estudante de levar, ainda que ocasionalmente, seu filho para a sala de aula, essa lógica precisa ser revista, pois parece haver uma falha no entendimento do que é o papel da Educação, sobretudo em um país com tanta pobreza e com tantos problemas sociais como o nosso.

Se a sala de aula for, de fato, um espaço de humanização das relações e de acolhimento do outro, teremos ainda mais chances de construir uma educação transformadora. Assim, que venham todos, estudantes e seus filhos. Que um estudante que tenha um filho não precise mais deixar de assistir a uma aula por isso, porque esta não parece, de forma alguma, uma justificativa razoável.

(Eu sou a Elô Lebourg, idealizadora do Professores transformadores. Entre tantas coisas, sou historiadora e mestra em Educação. Sou uma professora transformadora também, dessas que acredita que vai mesmo melhorar o mundo.)