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COLUNA DA HELENICE SCHIAVON: Perturbações de amor

Texto 14

Acho que todo professor – e me refiro especialmente àquele que está na sala de aula com crianças, adolescentes e jovens – deveria ler dois livros de amor por ano e isso, ao menos, por 10 ou 20 anos, a depender do tempo que quisesse permanecer no ofício. Tamanho empenho com a leitura deveria se dar, preferencialmente em janeiro ou em julho, dois meses especialíssimos.

A escolha do período para as referidas leituras não é aleatórea: são meses de suposto descanso para o professor. A atividade, muito longe de ser apenas intelectual, deveria ser, sobretudo, amorosa. E prazerosa. E enriquecedora. Apenas uma regra (ou combinado) seria imposta aos professores leitores: o livro deveria ter muitas e muitas páginas (ou volumes), suficientes para que garantissem que nem mesmo um ávido e proficiente leitor os finalizasse em 30 dias – os do recesso ou das férias.

Imposta esta condição, a leitura de janeiro certamente se estenderia para fevereiro – quem sabe até março ou abril. Da mesma forma, a leitura destinada a julho não seria exaurida até agosto. Quiçá houvesse uma chance de terminá-la em final de setembro. Ou outubro.

Fico imaginando, então, como seria a conversa na sala dos professores que, inspirados por literaturas de amor, evitariam falar de fracassos, vícios ou erros – ao menos que fosse para chorar ou suspirar com a dor de reconhecê-los em seus alunos. Tampouco julgariam os comportamentos deles como desajustados, preguiçosos, grosseiros ou desatentos. Estes casos seriam avaliados como sintomas jovens de amor. Muito menos os professores leitores apontariam os dedos exigentes aos erros, às indisciplinas e às violações... Claro seria para todos que eram as doçuras extremas do amor que estavam a perturbar os corações.

E os cérebros.

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A seguir, alguma literatura para alimentar-se de amor. No topo da minha lista, Amor em tempos do cólera”, de Gabriel Garcia Marquez. O melhor:

https://www.revistabula.com/13813-as-10-maiores-historias-de-amor-da-literatura-em-todos-os-tempos/

(Eu sou Helenice Schiavon e atuo como professora de Língua Portuguesa em uma escola internacional de São Paulo. Acredito numa educação centrada nos alunos, em suas competências e em seus direitos. Com professores, atuo como facilitadora de práticas com lógicas inovadoras, como a narrativa de vida, e outros mecanismos epistêmicos de aprendizagem.)