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COLUNA DA MARIA ALZIRA LEITE: Medo da/na sala de aula

Texto 15

Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão

(FREIRE, 1987, p. 78).

Nesta semana, assisti a uma reportagem que me deixou muito pensativa. A notícia girava em torno da violência contra um determinado docente. Os alunos desse professor transformaram a sua aula em um filme de terror, isto é, palavras de baixo calão e objetos eram lançados contra ele.

O professor, de frente à classe, lutava para permanecer ali, naquele lugar. Eu me senti muito constrangida vendo aquela situação. Um medo de estar na sala de aula e, ao mesmo tempo, um medo personificado desse ambiente se materializou. Nesse cenário, eu me projetei nesse contexto. Na verdade, acredito que esse docente representa a todos nós!

Considero que a imagem do educador nos orienta para a resistência. E destaco que resistir, necessariamente, não denota permanecer no mesmo lugar. No caso desse professor, ele rescindiu o seu contrato. Porém, deixou claro que “ama o seu ofício” e que permanece firme no seu propósito: ser professor.

Emocionei-me quando esse docente, no final da matéria, desabafou: Eu acredito ainda na educação. Eu acredito numa educação que transforma. Diante desse cenário, noto que, imbricados nesse dizer, estão a imagem e o agir docente. Por mais que os pontos negativos sejam reafirmados, muitas vezes, até mesmo por nós, no fundo, vejo educadores ultrapassando barreiras com o intuito de avançar.

E, assim, é bom ainda lembrar que, em época eleitoral, tão convidativa às atitudes, que os nossos olhares para o horizonte possam nos conduzir a uma prática reflexiva e dialógica.

(Eu sou Maria Alzira Leite, professora transformadora, pesquisadora de temas que envolvem discursos de/sobre professores. Atualmente, estou como docente no Centro Universitário Ritter dos Reis/UniRitter, em Porto Alegre-RS.)

Referência:

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p. 78.