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COLUNA DA MARIA ALZIRA LEITE: O ensino e o trabalho

Texto 13

Todo grupo é produtor de suas próprias normas, a partir de sua história, da história de seus membros [...] de tudo aquilo que se quer e que não depende dele, mas a partir do que, de acordo com suas capacidades ou possibilidades, ele constrói o que lhe é próprio [...] e todo sujeito realiza em formas sociais sua atividade submetendo-se a essas normas ou opondo-se a elas” (DARRÉ, 1994, p. 28).

As inúmeras transformações que vêm afetando o mundo coorporativo nas últimas décadas repercutiram em todas as instâncias sociais. Com isso, essas transformações têm sido causa de sérios problemas para os trabalhadores.

Nas últimas semanas, muitos acontecimentos instigaram-me a pensar nas nossas escolhas, inclusive, a profissional. Ao viver num cenário de muito trabalho, demandas burocráticas e anseios dos alunos, comecei a repensar, novamente, o que é ser professor. E, considerando as minhas limitações, sendo muito sincera, titubeei diante desse cenário.

Essa reflexão ganhou força quando ouvi, de um formando, aluno muito querido, que: Eu só quero ter um trabalho digno! Não quero viver do jeito que você tem vivido. Essas palavras, ditas, num momento de emoção, tocaram-me profundamente.

Eu fui para ao banheiro, me olhei no espelho e indaguei: como eu tenho vivido? E a resposta, sem piedade, logo emergiu: trabalhando em três turnos, nos finais de semana e feriados.

Em diversos textos sobre a profissão docente, tenho ressaltado sobre o ser referência para o outro. E, naquele momento do desabafo do aluno, notei que as suas palavras não estavam direcionadas para o ser professor, mas apontavam para uma determinada forma de viver o ensino como trabalho, tendo em vista as condições desse trabalho, de modo geral.

Gostaria de destacar que as minhas palavras não orientam para um desencanto da profissão e, ainda, não reproduzem apenas a imagem de um mal-estar docente. Na verdade, gostaria que o meu tom do dizer nos conduzisse para uma autorreflexão: como eu posso melhorar as minhas condições para o fazer docente? A resposta, talvez, seja mais simples do que a gente imagina: dando limites às tarefas inerentes ao trabalho.

(Eu sou Maria Alzira Leite, professora transformadora, pesquisadora de temas que envolvem discursos de/sobre professores. Atualmente, estou como docente no Centro Universitário Ritter dos Reis/UniRitter, em Porto Alegre-RS.)

(Eu sou Maria Alzira Leite, professora transformadora, pesquisadora de temas que envolvem discursos de/sobre professores. Atualmente, estou como docente no Programa de Pós-graduação do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter, em Porto Alegre-RS.)

Referências

DARRÉ, J. P. Le mouvement des normes avec Bakhtine et quelques agriculteurs. Technologies, Idéologies, Pratiques, v. XII, n. 1, 1994.