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COLUNA DA NÍBLIA SOARES: Neuros, dis, trans e sorrisos pelo corredor

Texto 4

Inicia-se a aula. Carteiras arrastam-se. Mochilas em trânsito tentando estacionar. Vozes altas, gargalhadas, gritos e alguns conflitos. Um estojo de metal cai no chão fazendo um barulho ensurdecedor, mas não para eles, que nem perceberam. Os assuntos parecem não ter fim quando, então, a professora chama a atenção para si. Uma vez, duas... três. Passaram-se 15 minutos desde que chegaram. Diariamente. Como uma locomotiva que faz sempre o mesmo percurso, com o mesmo som. Há que existir um maquinista!

Entre uma aula e outra, esmagadas pelos tempos escolares tão engessados, alguns também ficam em pé, transitam pela sala, outros olham pela janela vislumbrando um mundo particular de causar inveja. As atividades acontecem, é perceptível, e não raro, surgirem dificuldades. Cada um no seu tempo, diriam. Mas, enfim, o recreio! Ah, o recreio! Tão esperado pelos... professores! Ali, no lugar do cafezinho, tanto acontece. Vez ou outra, comentam sobre as dificuldades observadas neste ou naquele aluno. Não demora muito para que discussões como distúrbios, transtornos e laudos venham à tona.

Hoje, a educação está permeada por “neuros”, de todos os tipos, incluindo a neurose, se me permitem a brincadeira sem graça. Especialistas (e sou uma delas) atestam todo tipo de “dis, trans” e companhia limitada, a partir de então está rotulado, demarcado e delimitado o “problema” e, infelizmente, a limitação. Agraciados são aqueles que não sucumbem a diagnósticos, mas enxergam a possibilidade, o ultrapassar, o poder ser, fazer, aprender! De forma alguma estou sendo contra as avaliações, os profissionais (tão necessários) e os diagnósticos. Entretanto, como uma psicopedagoga que é professora, fico atenta sempre a uma coisinha. Uma só coisinha! Ao final do cafezinho, o reencontro com os sorrisos pelo corredor... Ah... Os sorrisos fartos, fora da sala de aula enfileirada, ficam como uma reflexão a todos... Livre... do jeitinho que cada um quiser refletir.

(Eu sou a Níblia Soares, colunista da rede Professores transformadores. Sou professora de crianças que acredita na educação positiva e na afetividade como parte do processo de aprender. Mãe! Pedagoga, psicopedagoga e especialista em Psicanálise, transformo vidas diariamente. Essa é a minha paixão.)