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COLUNA DA PRISCILA MACHADO: Professora, eu quero a massinha rosa!

Texto 4

Não há dúvidas de que são inúmeras as possibilidades expressivas oportunizadas para as crianças no dia a dia da Educação Infantil, por meio da modelagem. Muito mais que ocupar o tempo, o trabalho com a modelagem é uma atividade que provoca e mobiliza o pensamento espacial. É por isso que a massinha de modelar está presente em meus planejamentos diariamente (é claro que uso outros materiais, como argila, terra, misturas caseiras, receitas de bolos e docinhos que propiciam a modelagem), mas a massinha é a mais recorrente.

Uma questão sempre me intrigou no momento de manipulação: a escolha da cor. As crianças gostam de escolher com qual cor ou quais cores querem modelar, mas sempre achei difícil agradar a todos, então, na hora de entregar a massinha, já dizia logo: ninguém vai escolher cor, é a que eu der e pronto! Sim, eu já falei isso várias vezes... As preferências e os pedidos circulavam em torno da bendita massinha rosa: professora eu quero a rosa, e a minha resposta era a mesma: ninguém vai escolher cor...

Só que o que me move como professora “é a pureza da resposta das crianças”. E, quando ouvi de uma delas que não tem graça brincar, se não pode escolher, durante muitos dias, essa frase martelou na minha cabeça. Como resolver essa questão? Na minha sala tem 35 crianças e cada caixa contém 12 massinhas. Jamais eu conseguiria agradar a todos com a escolha de cada cor. Foi então que percebi que nunca havia dito isso às crianças e que o diálogo seria o primeiro passo.

Como planejado, faríamos um momento de modelagem livre. Sentei-me com as crianças na rodinha, expliquei que elas poderiam escolher, mas que nem sempre seria possível ter a cor escolhida, porque em cada caixa só vinha uma cor de cada. No entanto, disse que, naquele dia, todo mundo podia dizer qual cor ia querer. Um sonoro rosa ecoou pela sala. Sim, eu cumpri minha promessa, abri 35 caixas de massinha e tirei a rosa de cada uma delas: nunca havia visto as crianças tão felizes! Depois desse dia, sempre os deixo escolherem a partir da opção de cores disponível. Caso algum colega já pegado a massinha pretendida, estimulo a negociação para a troca ou brincarem juntos. Afinal, não se trata apenas da escolha das cores das massinhas, mas de perceber as crianças como seres de direito, que devem ser ouvidas e respeitadas em suas escolhas.

(Eu sou Priscila Machado, pedagoga, mãe de três meninas, professora da rede municipal de Palmas-TO, membra do Grupo de Pesquisas em Rede Internacional Investigando Escola Criativas – RIEC-TO – e mestranda em Educação PPPGE-UFT, orientada pela Profa. Dr.ª Maria José de Pinho.)