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COLUNA DA VIVI VIEIRA: A cultura indígena na escola

Texto 4

Quando é que devemos falar sobre a cultura indígena na escola? Apenas no dia 19 de abril? Acho que não!

Presenciei um episódio interessante entre um grupo de alunos. Eles estavam brincando de stop (em alguns lugares chama-se adedanha). A brincadeira consiste em agrupar palavras que comecem com a mesma letra – combinada previamente – a partir de uma classificação.

Durante a brincadeira, a letra da rodada era a I e uma das colunas da classificação era de “seres vivos”, um dos alunos preencheu essa coluna com a palavra “índio”. No instante em que ouvi essa resposta, fiquei observando, ouvindo se o grupo aceitaria ou não aquela palavra. Rapidamente uma das crianças alertou que aquela palavra não valeria ponto, porque os índios estão na categoria dos seres humanos, não eram uma espécie diferente. Outro ainda emendou: É preconceito, ele tem razão! O grupo concordou e ficou tudo bem. Não fiz intervenção alguma, apenas observei, ouvi e refleti.

O que estamos fazendo para que uma criança pense que um indígena pertence a uma categoria diferente da humana? Comemorar o dia 19 de abril com cocar de papel e duas diagonais de tinta na bochecha, com certeza, não ajuda.

O nosso trabalho, como educadores, é o de provocar o conhecimento e também de enriquecer o repertório de nossos alunos. A cultura indígena é ampla e rica. Há diversos elementos que podemos conhecer e explorar e que impactam diretamente em costumes e vocabulários atuais. Sem contar a desvalorização indígena no processo histórico da construção de nosso país, que nunca poderá ser esquecida.

Há escolas com trabalhos belíssimos que levam seus alunos a conhecerem tribos indígenas e a vivenciarem um pouco de sua cultura. Há também movimentos que incentivam a visita dos índios às escolas. Ambas as propostas valorizam a presença indígena que, infelizmente, é pouco lembrada em nosso dia a dia.

Pesquisar, conversar e conhecer a cultura indígena só irá enriquecer o nosso trabalho. O leque de possibilidades é imenso, tão grande que não cabe apenas ser trabalhado em um dia no ano.

(Eu sou a Vivi Vieira, mãe e professora. Pedagoga e psicopedagoga, formada pela Universidade do Vale do Paraíba / Univap. Atualmente, sou coordenadora pedagógica da Espiral Escola Viva. Trabalho também como formadora de professores, coordenadores e diretores pelo Brasil.)