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COLUNA DO MAGNO ANDRADE: Balde de água fria

Texto 6

Entre os dias 26 e 28 de abril de 2000, em Dakar (Senegal), representantes de 180 países compareceram à reunião da Cúpula Mundial de Educação. No encontro, foram estabelecidas metas que os países deveriam cumprir até 2015, cujo objetivo era o de levar educação de qualidade para todos. Desde então, é comemorado, no dia 28 de abril, o Dia Mundial da Educação, embora a data não tenha sido muito difundida entre os brasileiros.

O Brasil participou da reunião e assinou o tratado.

Porém, o mês em que se comemora o Dia da Educação parece não ser o mais indicado para que professores se manifestem a favor de seus direitos. Explico:

Numa segunda-feira, dia 23 de abril, um grupo de professores da Educação Infantil de Belo Horizonte dirigiu-se à prefeitura da cidade, a fim de manifestar contra o atual salário e exigir que o prefeito cumprisse o compromisso que firmou com a categoria na época das eleições. Os professores, que faziam uma manifestação pacífica na avenida Afonso Pena, foram dispersados algum tempo depois do início do ato. Uma ação truculenta transformou o ato político em um cenário de guerra. Jatos de água e bombas de gás lacrimogênio atingiram várias professoras e professores.

Esta ação em BH nos remete a outros casos de agressões contra docentes que lutavam por seus direitos. Neste ano, professores foram agredidos em São Paulo, quando manifestavam contra as reformas do governo Dória. E não podemos nos esquecer daquela fatídica quarta-feira de 2015, em que docentes foram fortemente reprimidos no Paraná, também em um ato democrático de manifestação. Todos esses episódios aconteceram no mês de abril em datas próximas à comemoração do Dia Mundial da Educação.

Mas será que o mês de abril realmente tem influência nestes atos? Não, claro que não. Essa é só mais uma daquelas coincidências que ninguém explica e nem sabe o motivo. O que não são simples coincidências são as repressões sofridas pelos professores no Brasil.

Na “pátria educadora”, opressões contra professoras e professores têm se tornado comuns: repressão policial, corte de direitos, governadores dizendo que devemos trabalhar por amor e não por dinheiro, presidente da República menosprezando nossa prática, tentativas de nos calar com a “escola sem partido”... É um balde de água fria atrás do outro.

No Brasil, país que assinou um tratado comprometendo-se a “melhorar a qualidade de educação e garantir resultados mensuráveis de aprendizagem para todos” (Meta 6 do Tratado), há tantas dificuldades para os docentes que, sinceramente, não sei até quando as pessoas vão continuar cursando as licenciaturas e escolhendo se aventurar pela docência.

Mesmo que cada ação nossa seja reprimida com jatos de água fria, nos resta resistir, lutar e entender que as opressões que sofremos são, na verdade, políticas e não policiais. Precisamos acreditar que aqueles que estão nas nossas salas de aula, hoje, farão a diferença no futuro. Nossa esperança está ali, sentada, com olhares atentos (mesmo que não pareça). As opressões que sofremos não serão capazes de parar a formação que damos aos nossos estudantes e é ela que pode garantir um futuro melhor. Um futuro mais digno para nós, em que a educação democrática seja o núcleo da nossa prática.

E que continuemos lutando e resistindo!

(Eu sou o Magno Andrade, um jovem professor transformador e fora dos padrões, que acredita que uma educação pública, democrática e de qualidade é direito de todos e fonte para uma mudança social.)