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COLUNA DO MÁRCIO CARVALHO: Um tema, várias perspectivas

Texto 5

Sou professor de Atualidades e, desde que comecei a trabalhar nessa disciplina, me deparei com o desafio de estar atento aos fatos relevantes do atual momento, sejam eles do Brasil ou de outros países, para refletir sobre eles de forma crítica.

Assim, busco me embasar em diversas fontes sobre um mesmo tema para levar, até os alunos, o máximo possível de informação, e para tentar, coletivamente, transformá-la em conhecimento. Quando um assunto é polêmico e divide opiniões, por exemplo, procuro trabalhar com textos que o abordam de formas diferentes.

Para trabalhar nesta disciplina, meus alunos recebem, uma semana antes de cada aula, o tema que iremos discutir e, dessa forma, eles também buscam textos e fontes para enriquecer o debate e as reflexões. Em muitos casos, são os estudantes que trazem propostas de temas para estudarmos e, dessa forma, vamos montando um cronograma temático ao longo do ano.

Para exemplificar, em nossas últimas aulas, temos debatido e refletido sobre a tragédia na qual dois jovens assassinaram oito pessoas e depois se mataram, em uma escola estadual de Suzano-SP. Procuramos, durante todos os debates em sala de aula, refletir sobre esse massacre, sobre suas motivações e, assim, muitos temas se desdobraram em outras análises, como a questão dos games, da redução da maioridade penal, a influência das estruturas sociais e o bullying.

Vivemos em uma sociedade marcada por achismos e pela intolerância em reconhecer outros pontos de vista e isso se reflete, consequentemente, na sala de aula. A pergunta recorrente em minhas aulas é: você acredita que a sociedade necessita de ver um mesmo tema por vários ângulos ou é importante manter apenas um olhar de um determinado tema? Sendo assim, em nossas aulas de Atualidades, estamos buscando exatamente encontrar múltiplos pontos de vista sobre um mesmo assunto. A dinâmica da aula é conduzida de diversas formas, como dividir a sala e, de forma organizada, promover um debate entre os alunos.

Sempre encerramos nossas aulas com mais dúvidas do que certezas, mas também com mais conhecimento do que os que tínhamos anteriormente aos debates. Isso porque temos aprendido que não é obrigatório sair de cada aula com uma posição definida a respeito de um determinado tema, mas com uma visão mais fundamentada e crítica.

Quando deixamos os alunos se apropriarem dos temas, eles buscam fontes e informações e se envolvem totalmente com seu aprendizado. Eu, como professor, me sinto realizado por ser um agente mediador do processo da formação do conhecimento.

(Eu sou o Márcio Carvalho, professor transformador, formado em História pela Universidade Federal de Viçosa. Leciono as disciplinas de História, Sociologia e Atualidades, e coordeno um projeto de estudos e práticas pedagógicas interdisciplinares, o GEPISA, Grupo de Estudos e Práticas Interdisciplinares em Sala de Aula.)