Professor, suas aulas estão mexendo muito comigo! Já escutei, algumas vezes, essa fala e sempre que ela se repete me passa mentalmente uma frase: Eu cheguei no ponto que precisava! Isso porque, ao longo de alguns anos trabalhando com disciplinas da Psicologia em cursos na área social e de gestão, fui me perfazendo professor com o compromisso próprio de que minhas aulas não seriam apenas vinculadas ao conteúdo.
Penso que chegar ao ponto de sensibilização do aluno diz de uma sintonia e anacronia de engajamentos educativos. Sincronicamente, há uma necessidade de que professores e alunos estejam numa relação horizontal de comunicação – a linguagem utilizada deve ser como um combinado e corresponder ao que se pensa, sente e às suas formas de ação. Anacronicamente, o que é vivenciado em sala de aula toca o aluno no seu passado, presente e futuro, e possibilita um resgate, avaliação e superação das memórias, uma experiência presentificada de possibilidade de ação e uma nova forma de se projetar ao futuro, sendo possível sonhar.
Entretanto, quando chego ao ponto de sensibilizar o aluno, tocá-lo onde é mais frágil, não posso me negar a escutar, não posso virar as costas e ter em mente que foi apenas um conteúdo da aula, que será em breve esquecido. O teor das aulas pode afetar os alunos de forma positiva e/ou negativa, pode fazer gostar ou desgostar, por isso, é necessário fazê-lo útil, real, aplicável, interessante e prazeroso.
Essa tarefa de transformar palavras, textos e teorias em conteúdos sensíveis, que causam afeto, é uma tarefa espetacular, minuciosa, aflituosa e enriquecedora. Tenho observado o quanto tento fazer isso e o quanto fico surpreso – mesmo que isso se repita algumas vezes – sobre o impacto direto disso nas formas desses sujeitos pensarem, sentirem e agirem.
Quando um aluno ou aluna me diz que a aula está mexendo com ele/ela, entendo que, naquele momento, o potencial transformador das aulas é demonstrado, que acabei por conseguir fazer com que teoria, experiência e profissão se encontrassem e fizessem sentido. Assim, uma pergunta íntima que tenho me feito ao longo do tempo de professor, e que me ajuda nessas façanhas, é: se eu estivesse assistindo a minha própria aula, eu gostaria dela? Um truque simples: nos colocar no lugar do aluno, considerá-lo sujeito no processo de ensino e aprendizagem, nos respeitar, assumir o compromisso de ser transformador.
(Eu sou o Luiz Ribeiro, colunista da rede Professores transformadores. Nas andanças pelas estradas de Minas, me situo como psicólogo e doutor em Educação. Acredito que ser um professor transformador seja crer no potencial da educação para a melhoria do mundo.)